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Maria João Estêvão

Mataram a Cotovia - Harper Lee

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Adiei a leitura deste livro durante bastante tempo, e percebi que foi a melhor escolha. Como diz Madalena Sá Fernandes, "Não há nada pior que um livro antes do tempo", e ler esta história sem a maturidade necessária para compreender todas as suas nuances seria quase um pecado.

Mataram a Cotovia conta a história de Scout, uma menina que vive numa pequena cidade do Alabama, durante a Grande Depressão. É criada por seu pai, um advogado viúvo, que decide defender em julgamento um homem negro, numa sociedade marcadamente racista e preconceituosa. 

Um dos aspetos que mais apreciei desta obra foi a descrição inocente mas detalhada da pobreza e dos valores desta localidade. Scout descrevia com naturalidade que os seus colegas usavam roupas remendadas, não tinham dinheiro para uma refeição, e moravam na lixeira da cidade. Por outro lado, presenciava e sentia o julgamento dos seus conterrâneos, que utilizavam as escrituras como justificação para destilar o seu ódio. O racismo e as suas consequências, como a Segregação Racial, estiveram explícitos ao longo da obra. Ainda assim, Scout via o mundo com a inocência da idade: acreditava que a casa dos seus vizinhos estava assombrada, e passava os verões a brincar com o seu irmão e amigo. Tal como o seu irmão, via o pai como um herói, que traria justiça e venceria o seu julgamento. O contraste entre a decadência da sociedade e a pureza da infância era marcante -- ao conhecer Scout ao longo do livro, percebi que representava tudo aquilo que somos (e que não somos) antes de influenciados pela nossa cultura.

Atticus, o seu pai, foi uma personagem que apreciei do início ao fim do livro. Durante toda a obra, tentava incutir nos filhos bons valores e libertá-los das amarras da cidade, nomeadamente dos papéis de género e dos ideais racistas. Apesar de sentir o peso das criticas, manteve a sua posição e defendeu o seu cliente até ao fim.

O fim do julgamento marcou, na minha opinião, o fim da inocência de ambos os irmãos, estes que ainda acreditavam na justiça do mundo. Foi como o arrancar de um penso rápido, que desvendou a corrupção daqueles que chamavam de vizinhos.

Concluindo, gostei bastante deste livro que, apesar de escrito através das lentes da infância, contém uma critica social pesada e convida para a reflexão. Creio que deve ser lido por todos, especialmente nos tempos em que vivemos.

Aqueles que não aprendem com a história estão condenados a repeti-la.

- George Santayana 

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